Café filosófico. Sem leite, lógico.

Posted by Felipe Luna | Posted in | Posted on 09:48



Não Senhor Leitor. A rima que tomou conta deste título não foi proposital. Aliás, é com o tempo que o leitor vai perceber o quão brega eu as acho. Principalmente para quem não sabe fazer. As riminhas (chamo assim pelo nosso infeliz grau de intimidade) pobres e ABAB sempre me lembram os calouros de faculdades de Letras (com o perdão para o eventual leitor que o seja, mas muito antes de terminar o curso vai entender o que digo). E antes que o leitor atingido vá embora diante tamanha intolerância, eu peço que fique, o pior ainda vem por aí. Não que a forma não seja importante, ela é essencial. Mas vamos diminuir sua importância por enquanto para entrar numa discussão mais importante. Passemos para o conteúdo, então.
Nem cheguei a consumir meio quilo de letras de terceira disponíveis por aí e as teorias filosóficas incontestáveis voaram em cima de mim mais veementes que um enxame sobre o visitante indesejado, e mais sedutoras que uma lagoa repleta de sereias cantantes. Qual o problema nisso? Todos. Os meus olhos (tampouco os seus, caríssimo leitor de bom senso) não merecem tamanha futilidade. É incrível como certos gênios das palavras tentam se equilibrar nas linhas de um texto como se fossem cordas bambas e saem proferindo asneiras descabidas e levianas encapadas de verdades absolutas. O leitor mais tolerante, em defesa, poderia dizer que isso é uma questão de gosto. E gosto não se discute (com o perdão do clichê). Mas quem disse que não? Kant, jura que é discutível. Eu concordo em gênero, número e rima.
Convidando o leitor a sentar-se, servir-se de uma boa xícara de café sem leite e sem açúcar eu pergunto: O que seria o “gosto” se não um conjunto de atributos que constroem a percepção de alguém sobre determinada coisa? Se não isso, o vácuo, talvez. E para o senhor leitor menos conformista é apreciável que tire da cabeça a idéia de que essa definição morre na subjetividade. Ela nasce nesta - vale admitir -, mas deve se desenvolver na universalidade. E antes mesmo que o leitor confuso desloque a mandíbula devido aos sucessivos bocejos, eu explico: O seu gosto pode nascer único e individual, mas tende a ser influenciado por forças externas através da persuasão e da discussão de que um determinado objeto pode ser apreciado positivamente por suas características determinantes de uma boa percepção. Por isso o gosto tende a ser universalizado. Além disso, é universal porque não se refere a nenhum conceito previamente estabelecido, mas a uma sensação de prazer ou desprazer perante uma coisa. É como disse Jairo Dias Carvalho: “o prazer é um sentimento e sentir prazer é uma questão de gosto, sendo o gosto uma faculdade de apreciação do prazer. O gosto repousa sobre a capacidade apreciativa de ser afetado por prazer ou desprazer”.
Bonito isso, não? O leitor, por abséquio, fique a vontade para discordar, afinal isso não deixa de ser uma questão de prazer ou desprazer. Por falar nisso, desculpe tamanha indelicadeza deste anfitrião que o fala. Ofereci um café sem leite e sem açúcar e nem me preocupei em perguntar se o leitor aprecia. De modo que eu posso oferecer um cházinho, se assim for de seu (in)discutível gosto.

Comments (4)

O que vc pôr na mesa,eu tomo!
Confio no seu INdiscutível gosto...terei que tomar cuidado a partir de então,pois ouvi dizer que café sem leite vicia.E isto é tão certo quanto conviver longe de vc mata qualquer um de saudades!

Sou apaixonada por vc,pelos seus textos...enfim,preciso de uns litros de vc na minha vida!

Se era pra ficar bom ,eu não sei, mas lamento lhe informar que ficou.......................................... "mara"... vilhoso!!!!!!!
Realmente seu café está cada vez melhor, e se Carol Machado me permite... "café sem leite vicia"

É um café sem leite, sem açúcar e frio, mas, no entanto, é aprazível aos olhos e aos sentidos, é totalmente passível de degustação e vício!

Realmente, gostos são, primeiramente, individuais, mas se fundem com a universalidade... Afinal e, felizmente ou infelizmente, estamos inclusos numa sociedade e, como tais, não temos várias possiblidades do que gostar... É sempre a mesma coisa...

E parece que isso nem é relativo... Que bosta! Não quero brincar mais!